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O ESMAGADOR PESO DA EXISTÊNCIA

O Esmagador Peso da Existência

A todo tempo eu sou pego involuntariamente em pensamentos sobre o viver, Deus, família, amor e o que é ser um ser humano. Após a experiência de morte de um amigo, eu tenho pensado cada vez mais em como viver melhor e principalmente, como ser um ser humano melhor. Não escrevo isso com a intenção de ser um exemplo para ninguém ou sequer com a intenção de pavimentar um sistema moral que deverá ser seguido por aqueles que gostam de mim. Nem mesmo tenho eu a intenção de ser visto como uma pessoa boa. Eu simplesmente quero ser. Hoje deitado em um puff na minha biblioteca de casa, eu conversava sobre coisas aleatórias da vida enquanto ouvia música. De repente começa a tocar a música “The Earth Prelude” do compositor italiano Ludovico Einaudi. Esse texto é fruto do impacto que essa música provocou em minha alma. Se você quiser ter uma experiência imersiva comigo enquanto lê esse texto, recomendo procurar essa música em alguma plataforma de música digital e se abra para uma experiência diferente. Por alguns breves minutos você e eu estaremos conectados, mesmo que distantes, por essa música. Cada nota que chegou até meus ouvidos também chegará ao seu e se eu for habilidoso suficiente, compartilharemos uma simbiose.

Como viver?

Está aí uma pergunta que muitos se fazem durante a vida toda. Milhares de seres humanos tentam da melhor forma possível responder a essa simples pergunta: como viver? Alguns vão dizer que a melhor forma de viver é ter uma vida religiosa onde todas suas energias serão direcionadas para agradar essa ou aquela divindade, ou ainda que a melhor forma de viver é você seguir o passo a passo que um determinado Deus deixou. Mesmo que isso tenha sido escrito por mãos de seres humanos. E ainda sim, é considerado, por alguns, a “palavra” de Deus. Já a algum tempo eu tenho buscado viver uma vida significativa sem religião, e olho com bastante curiosidade como cada ser humano tenta ressignificar sua vida das mais diversas formas. Para alguns, retirar a religião é impossível, pois não existe vida sem Deus. Será mesmo? Mas enfim, conversaremos sobre religião em um momento mais apropriado. Alguns seres humanos apostam suas fichas em como viver através da Arte. Ela responderia ou pelo menos indicaria formas com que podemos ler, experimentar, traduzir o mundo. Confesso que tenho fortes inclinações a concordar com os artistas. Talvez eles virão e veem algo que a maioria das pessoas não percebe. Ainda existem pessoas que escrevem longos tratados filosóficos sobre a melhor forma de viver. E sejamos sinceros, é impossível ler um bom livro de Filosofia e não ser impactado pelo poderoso pensamento que esses gigantes intelectuais descreveram em seus tratados. Sejam religiosos, artistas ou filósofos, a grande verdade é que não podemos ter certeza alguma sobre como viver. Felizmente.

O que você tem feito com sua vida?

Como você provavelmente deve saber, um amigo meu morreu recentemente. Essa é uma experiência que ainda tem seu impacto até hoje em mim. Eu sempre lembro dos últimos dias dele no hospital. Caso você ainda não tenha lido esse texto clique aqui. Passamos nossa vida sem certeza do que acontecerá conosco. Somos cegos andando na rua, contando com a sorte de não sermos atropelados a qualquer momento pelo Ceifador, mesmo sabendo que mais cedo ou mais tarde ele terá sucesso. Imagino que disso você já deva ter uma certa consciência. Quando eu olho para minha própria vida eu vejo o quanto eu mudei, o quanto eu continuo tentando mudar. Não que essa mudança seja algo obrigatório, mas que eu olho para o mundo constantemente com olhar de surpresa. Quase todos os dias algo me assombra e eu me pergunto: estou vivendo de forma autêntica? Estou constantemente me perguntando onde estão os pontos cegos na minha mente, quais são os desafios que eu sequer consigo ver. Diante de 41 anos de existência, o que eu não consigo ver com clareza? Tenho medo de me tornar aquele que quando chega a uma certa idade está certo das coisas, enquanto todos ao redor dão risadas da ignorância da pessoa. É quase como você ter um pedacinho de couve nos dentes. Todos ao seu redor estão vendo, pensando em lhe falar, mas nunca o dizem. Tento constantemente olhar no espelho e ver onde estão minhas falhas e erros na mente. Você pode facilmente me colocar em um estado de reflexão se me dizer: Rudra, você já pensou nisso? E se você estiver errado, já pensou nessa possibilidade? Pronto, isso é o suficiente para eu iniciar um investigação sobre minhas crenças, certezas, medos, desejos, anseios e tudo mais que aprendi na vida. Admito, sem rodeos, que isso não é tão agradável como possa parecer. Revisar as próprias crenças é uma tarefa prazerosa, como possa parecer. É bem mais fácil apontar o dedos para a irracionalidade do outro e ficar calado diante da sua própria. Porém não devemos fazer isso, ou pelo menos, não deveríamos.

O peso da existência

Viver não é fácil, esteja certo disso. Podemos ter momentos de felicidade que nos enchem de esperança para continuarmos por mais um tempo na expectativa de dias melhores ou de manhãs mais frescas. Porém, você, assim como eu, sabemos que viver não é fácil. Além de todos os afazeres do dia a dia, precisamos lidar com a constante busca de sentido da vida. O viver deve ser algo mais além do simples fato de dormir e acordar. Viver é um filme onde você tem enormes aventuras, corre atrás de bandidos, se apaixona, chora, sorri, faz coisas que se arrepende depois, aprende, enterra amigos, fica doente, saudável, etc. Mas que no final de 2 horas e meia as luzes se acenderão e você precisará ir embora. Nenhum filme é eterno. Por isso, penso ser importante que tenhamos uma vida digna, uma vida que seja cheia de significado e descobertas. Uma vida, que mesmo após as luzes se ascenderem, você poderá ser lembrado por toda bravura com que viveu, e essa bravura será contada por gerações e gerações. O esmagador peso da existência não deve nos assustar. Ele pode ser aliviado com várias criações humanas, sejam elas a religião, filosofia ou arte. Isso depende do gosto do freguês. Você pode até achar que a sua escolha é mais assertiva do que a do seu vizinho. Pode até mesmo pensar que por causa da sua escolha, você receberá uma recompensa quando as luzes se ascenderem. Você pode até achar, achar. Não faz muita diferença se você escolhe a religião ou a filosofia, se nenhuma delas lhe fizer uma pessoa melhor. Qual o valor em saber recitar frases famosas de filósofos ou ainda se gabar por ter livro um livro de um intelectual da moda, de que adianta você ter graduações, mestrados e doutorados se você sequer saiu do jardim da infância do viver? É preciso que paremos de repetir a música já cantada por outros e comecemos a compor a nossa própria melodia. O peso da existência se torna menor quando deixamos de colocar pedras nos bolsos dadas pelos ditos “sábios” do passado. Talvez não precisemos construir menos muros e mais pontes e sim menos muros e mais asas. Talvez somente quando você e eu formos livres para voar com igualdade pelos céus, nós dois tenhamos a possibilidade de pousar em campos verdes e águas cristalinas.  

Asas de ferro

Como eu disse acima, não importante muito qual linguagem você decida ler o mundo, apenas tome cuidado para que ela não lhe faça uma pessoa ruim. Evite ser o diabo na vida de alguém, mesmo que você venha se vestido de branco segurando uma cruz em sua mão. Adote sua escolhe de leitura de mundo somente para você, não obrigue ninguém a viver um mundo da forma como você escolheu. Talvez você não deva ter a menor ideia de qual leitura de mundo você gostaria de ter, talvez você esteja ainda mais perdido em relação a como viver a vida. Tudo bem! Você ainda tem tempo, não se cobre muito ou não se apresse muito em escolher uma leitura de mundo rígida que lhe dê asas de ferro que ao invés de lhe impulsionar para os céus, lhe afunda no pântano da infelicidade. Com certeza existem inúmeras outras leituras de mundo além da religião, filosofia ou arte, porém estou demasiado preguiçoso hoje para falar sobre as outras, quem sabe um dia. A religião lhe dá esperança em algo que é desesperançoso, a filosofia lhe ensina o correto pensar mas lhe trás a dura realidade e a arte lhe dá a possibilidade de saborear um suco amargo como se fosse um delicioso suco de laranja. Para encerrar nossa conversa de hoje, eu gostaria que, além de você pensar sobre sua escolha de leitura de mundo, você praticasse um pouco de empatia e tentasse imaginar o motivo de uma pessoa escolher uma leitura de mundo diferente da sua. Pense que você não sabe exatamente por todas as aventuras que aquela pessoa passou e que a levaram e escolher isso ou aquilo. Você pode não concordar, e você tem todo o direito, porém evite de achar que sua leitura de mundo é superior a de qualquer outra pessoa. Pois se você for como eu, você irá se transformar, revisar e recomeçar tantas vezes na vida que provavelmente olhará para trás, a uma certa altura da vida, e se questionará se você ainda permanece o mesmo. Se você se olhar no espelho após alguns anos, você ainda se reconhecerá? Eu espero que não.

Yogi Rudra Das

Rudra Das é graduado em Ciências do Yoga e Naturoterapia pela Maharishi Dayananda Saraswati na India, Mestre em Yoga pela Jai Narain Vyas University, Jodhpur – India. Com uma curiosidade e sede de saber ele começou a cursar outra graduação em Filosofia no Brasil (Uninter) e uma Pós Graduação em Filosofia Clínica, para que então a sabedoria oriental pudesse ser implementada da forma mais harmoniosa possível com o pensamento ocidental.